Eram 7h30 da manhã. Tinha acordado cedo novamente. Mas com uma diferença: a manhã parecia brilhar mais.
A noite com Luciana foi a mais especial de todas. Foi tudo tão perfeito, quer dizer, tirando a briga. Todas as sensações foram incríveis.
Luciana ainda estava dormindo. Parecia um anjinho. Ela dormia sempre de lado e com a cabeça sobre as mãos. Seus cabelos lindos e lisos ficavam atrás para trás, mostrando seu pescoço.
Tomei um banho e fui aproveitar o domingo. Fiz o café como de costume e deixei um recadinho pra ela ler e saber onde eu estava. Decidi, então, ir para o terraço. O sol batia forte lá, mas não era quente, e sim bastante iluminado. Me debrucei para ver a rua. Acho que esperava ver algo diferente, mas, como sempre, era domingo... e se algo acontecesse, seria um atentado terrorista.
Enquanto eu olhava, pensava em como as coisas estavam indo. Eu estava quase me formando. Faltavam apenas 2 anos para que eu me tornasse um biomédico. O emprego estava quase garantido, pois o amigo do meu pai disse que me daria uma vaga em um laboratório de diagnósticos da cidade. Eu tinha dinheiro...
Desde que nasci, meus pais abriram uma poupança para depositarem dinheiro todo mês e, até hoje, esse dinheiro ainda não foi mexido. Havia mais ou menos vinte mil reais desde a última vez que o vira, o que foi a uns 4 anos atrás.
Pesando nessas coisas, comecei a perceber que já não era mais a mesma pessoa de antes. Não era mais o Felipe vestibulando de 18 anos. E sim Felipe, um biomédico universitário quase formado de vinte anos, que tem um apartamento, um carro emprestado do pai e que paga as contas de luz, água e condomínio... era muita responsabilidade.
Em um resumo, eu era um adulto, assim como os meus país e outras pessoas são. Luciana estava quase na mesma situação. Quase formada, ajudava nas contas, e estava, praticamente, morando no apartamento...
Nesses pensamentos, uma ideia me veio a cabeça: pedi - lá em casamento...
Pensei: “não somos velhos o suficiente para nos casar, mas o casamento não precisa ser agora...”
A ideia ainda soava de maneira estranha para mim. Pensar em estar junto de alguém para o resto da vida talvez....
Acordar e ver essa pessoa ao meu lado todos os dias, dormir com ela todos os dias, falar com ela todos os dias até eu morrer... parecia mais pesado ainda. Mas eu a amava tanto, tanto para não conseguir pensar em não estar com ela. Era doloroso pensar desse jeito. Nunca apressamos nada e ,agora, eu estava pensando em me casar com ela. Parecia uma medida muito “precoce”. Não desisti, mas a deixei de lado em minha cabeça por um tempo para pensar melhor e amadurece- lá.
Decidi descer e ficar com Luciana no apartamento.
Quando cheguei, ela ainda estava dormindo. Já eram quase 8h, então decidi acorda- lá. Olhei em cima da mesa uns papeis e comecei a ler. Um deles era pra Lu. Era sobre uma tal de viajem pra ela fazer e que não tinha me dito. Não sabia direito do que se tratava. Deixei em cima da mesa e fui pro quarto.
Deitei na cama e me abracei com ela.
-Humm...- ela disse enquanto ficava com os olhos fechados –
- Bom dia, amor!- Falei deitando minha cabeça na dela.
- Ainda ta cedo??
- Uhum, são 8 horas ainda amor. Quer sair???
- Sair pra onde??
- Dar uma volta, comer...conversar...- Ela abriu os olhos e me olhou.
- Fiz alguma coisa errada ontem?- Falou preocupada.
- Não amor...
- Então porque quer conversar? É algo sério??
- Oh, amor, só falei conversar, tipo, conversar normal- Beijei as bochechas dela.
- Ah, graças a Deus- ela ficou me olhando nos olhos com cara de quem tava lembrando da noite anterior- rum...e ontem, hein?-
-Ontem???- Sorri com cara de quem gostou.- Ai ai, nem te conto como foi bom...- Ela riu.
- Ontem foi bom pra mim também. Onde aprendeu tudo aquilo???- Ela falou meio tímida mas curiosa pra saber os detalhes.
- Ah, amor, a gente vai aprendendo com a vida, né...- Ela me bateu no ombro.
- Vamos na praça????
- Qual praça?- Perguntei.
- Aquela que sempre tem umas coisas nos dias de domingo. Eu esqueci o nome, amor...
- Ahh, sim a do centro. Aquela aqui perto?
- É. Bora??
- Huuuuum, ta bem. Vai tomar banho e nós vamos.
- Tive uma ideia melhor.
O resultado dessa ideia foi os dois tomarem banho juntos. Algo que nunca tinha acontecido. Mas foi bom.
Na praça, Luciana comprou alguns vestidos, blusas com estampas. Tudo artesanal. Tinham uns chinelos de madeira, ruins pra cacete de calçar. Parece que a alça era feita de corda de pescador. Ralava toda a parte de cima do pé.
Nos divertimos muito e batemos muitas fotos durante esse tempo. Já eram 10h e nós decidimos tomar sorvete. Enquanto isso, ela tava me falando dos tipos de sandálias que existem. Era tanta marca que eu não sabia qual era qual, mas ela sabia identificar todas só olhando. Enquanto ela falava, eu fiquei sério. Estava começando a me lembrar da carta que tinha lido.
-Amor...- falei.
- Que carta amor??
- Uma que dizia que alguns alunos do seu curso teriam que viajar pra algum lugar pra fazer alguma coisa...
- Ah, sim...- Ela ficou calada.
- Você vai???
-...
- Amor??- me curvei pra frente dela.
- Ta, eu vou, amor...
- E porque não me falou?
- Porque ainda falta muito tempo e não queria que você se preocupasse com antecedência...
- E quando pretendia me falar? Quando faltasse uma semana pra ir, é?
-Não amor, eu ia te falar. Sério. Não ia te deixar aqui sem dar uma explicação...
- Hum...
- Ta com raiva de mim???
- Não amor, só não gostei dessa história de viagem. Afinal, o que é isso?
- É que vai ter um congresso internacional e todos podem participar. Eu não iria, mas fiz um projeto com uma amiga que foi aceito e nos vamos apresentá-lo nesse congresso.
- Ah, ta.
- Amor, não fica assim...
- E quanto tempo vai durar isso?
- 3 meses. Só.
- E aonde é esse congresso?
- Poiséee...- Quando Luciana falava isso, era porque não era coisa boa.
- É na França...
- Na França- Olhei pra ela com um carão- Como assim França, Luciana?
- Ah, amor. Não me chama assim, eu não gosto. É na França amor, é internacional, lembra? Poderia ser aqui, nos Estados Unidos, na Alemanha, no Iraque...ta no Iraque não, mas podia ser em qualquer lugar.
- Ta bem....- Continuei comendo o sorvete.
Parece que tiramos a semana toda pra brigar. Odeio brigar com ela...
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